Kartonerismo na mídia

Seguem abaixo algumas entrevistas, artigos em jornais, internet, revistas e afins.

Matérias

Matéria sobre o portunhol selvagem no jornal O Globo (07/set/2009): http://oglobo.globo.com/cultura/mat/2009/09/03/um-glossario-basico-de-portunhol-selvagem-767456943.asp

Entrevistas


5. A fantasia é a maior arma das crianças… A última entrevista de Wilson Bueno, concedida para Kutsemba Cartão (27 de maio de 2010)

A raíz de la publicación cartonera de “O Gato Peludo e o Rato-de-Sobretudo” en Mozambique, el autor brasileño Wilson Bueno, con la generosidad que lo caracteriza, le ha concedido a Kutsemba Cartão una entrevista que reproducimos a continuación:

1- Quem é o Wilson Bueno?

Um pequeno pintor das tardes (melancólicas) da Floresta. Filho de lavradores, cresci até os 7 anos no sertão profundo do Brasil. O parto de minha mãe quem o fez foi minha avó materna, cortando-me o umbigo com uma colher em brasa, num rancho de chão batido e paredes de barro. Meus primeiros brinquedos foram bichinhos do mato, de estimação – macaquinhos, coatis, jaguatiricas ( uma espécie de gato selvagem). Fazia, de sabugos de milho, pequenas carroças, carrinhos-de-boi.

2- Para que público escreveu “O Gato Peludo e o Rato-de-Sobretudo”?

Eu acho que para crianças de 0 a 100 anos. Para ser entendido ( ou carrollianamente desentendido…) por quem gosta de histórias onde estar a ir é quase o mesmo que estar a voltar e por esse rumo e por esse andado… A visão das crianças onde impera basicamente o nonsense, foi dela que parti para escrever essa fábula em versos que já ganha o mundo, publicada que foi em vários países da América Latina e, agora, na Mãe África, para meu orgulho.

3- “O Gato Peludo e o Rato-de-Sobretudo” têm equivalentes entre os seres humanos?

Sim, é uma sátira, penso, bem do modo como as crianças satirizariam o Poder, as coisas autoritárias, militarmente armadas. O que há de Gato sonhando em ser Rato Marechal por aí é o que não falta… Mas como a volta é só de ida, só voltando na ida e indo na vinda e assim por diante até o infinito… Feito uma dízima periódica… Uma homenagem a Lewis Carroll…

4- Porque decidiu publicar o seu livro em cartão?

Tenho cedido meus direitos autorais aos cartoneros de vários países pois sou um guevarista hasta la derradera ternura. Não confundir com castrismos autoritários e stanilistas, por favor. A utopia do Che é mais para o Cristo do que para o Lenin ou para os sórdidos irmãos Castro…. Guevara não aprovaria absolutamente nada do que ocorre hoje em Cuba, por exemplo. Escapou da Ilha em tempo, para se doar ao mundo. E morreu na mão de ratos fardados…

5- Que mensagem gostaria de mandar às crianças de Moçambique?

Que pensem num mundo mais fraterno, mais solidário, mais generoso e mais despreendido. Que façam da utopia de sonhar o melhor da vida. Que tornem a sofrida Moçambique um país de concórdia, sem divisões de nenhuma ordem. E que usem o saber, a literatura, a fantasia, que é das crianças ( de todas as idades) a maior marca, a sua maior arma…

O imperador do portuñol selbajem, Wilson Bueno, foi encontrado morto em sua casa no dia 31 de maio. Fato este que nos deixou inconformados. Lamentamos profundamente a morte de nosso querido "Compá", um expoente escritor da literatura contemporânea e grande colaborador desta editora. Deixou um legado e muitos seguidores. Wilson Bueno, escritor, é paranaense da cidade de Jaguapitã e residia até então em Curitiba/Brasil. Já publicou, entre outros, Manual de Zoofilia, Florianópolis: Noa Noa, 1991, 2ª edição; Mar Paraguayo; São Paulo: Iluminuras, 1992; Pequeno Tratado de brinquedos, São Paulo: Iluminuras, 2ª edição, 2003; A copista de Kafka, São Paulo: Planeta, 2007, Os Chuvosos e O Gato Peludo e o Rato-de-Sobretudo pela Katarina Kartonera.

Seu último trabalho foi um presente primoroso para o mundo, em especial para as crianças da África!

Uma linda parceria entre as irmãs Katarina Kartonera, Kutsemba Cartão (Moçambique/África) e o agora saudoso Wilson Bueno.

Postado em 31 Mayo, 2010 - Publicado por Kutsemba Cartão. Acessem o site http://kutsemba.wordpress.com/ e vejam na íntegra a concretização deste projeto.

"El gato peludo, el ratón del sobretodo y el colectivo kutsembero han cruzado la Bahía de Maputo para trabajar con las niñas del Lar Tiberíades, en la región de Catembe. Allí nos estaba esperando la Hermana Carmen Acín Berges, directora de este centro para niñas huérfanas y abandonadas, algunas de ellas enfermas de SIDA.
Cuando llegamos al Lar llenos de pinceles, temperas y, por supuesto, portadas de cartón, las caras felices de las niñas en medio de tambores y cantos nos dieron la mejor de las bienvenidas. Después de leerles 'O Gato Peludo…' comenzó la sesión de pintura y, como siempre nos pasa con los niños, en un dos por tres se acabaron las portadas pero no las ganas de seguir pintando: '¿ya no hay más, ya no hay más cartón para pintar?'”


4. O poeta em fuga - Entrevista com o poeta André do Amaral, autor do livro Fio no Pescoço, editora Katarina Kartonera.

*Por Liana Cota

André Luiz do Amaral é graduado em teologia (Escola Superior de Teologia, São Leopoldo/RS) e mestrando em Literatura na Universidade Federal de Santa Catarina, com auxílio do CNPQ. Nasceu em Florianópolis (SC), filho de um pastor protestante e de uma professora de biologia. Tem 23 anos. Vive entre a capital catarinense e a pequena ilha de São Francisco do Sul (SC).

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André, sobre a gênese da sua lavoura poética – a realização dos seus poemas – quais os processos predominantes?
Aprendi meu procedimento observando os textos do poeta Sérgio Medeiros, que escreveu o prefácio de Fio no Pescoço porque eu pedi, porque acreditava que ele entenderia melhor do que ninguém o que eu pretendia com o livro. Acho até que sou um tanto plagiário. O que ele faz é descrever. Seus livros não contêm narrativas, mas “descritos”. É isso que procuro fazer. Em Fio no Pescoço essa característica está evidente. Há no livro uma passagem da narrativa curta à completa desintegração da forma. Repousa aí uma nuvem surrealista bastante espessa, que não tenho problema em assumir. Há muito nonsense também, e o Sérgio foi o primeiro a perceber isso com clareza. Outro aspecto importante é o entrelaçamento de referencialidades. Para ler meu livro é preciso ter lido outras coisas, coisas que eu mesmo não li, porque o que quero é lançar o leitor para fora. Acontece comigo como aconteceu com aquele personagem do Kafka que pediu ao empregado para encilhar o cavalo. Quando o empregado pergunta aonde vai o patrão, a resposta é uma frase enigmática: “Fora daqui é minha meta”. Acho que a literatura é esse cavalo encilhado que nos leva a nenhum lugar, mas sempre para fora.

Qual a relação entre a sua vida e sua obra?
A pergunta é mais complexa do que parece. O problema está muito além de saber se há correspondências entre os eventos narrados e os vividos. Por isso, demos uma volta no parafuso. Já vai longe o tempo em que Michel Foucault decretou a morte do autor, mas no último decênio a categoria “autor” voltou com toda a força aos estudos literários. E os blogs, diários, biografias e autobiografias estão aí como testemunho disso. Então, posso dizer que minha presença na obra está mais para um gesto, uma sutil insinuação. Foi o filósofo italiano Giorgio Agamben quem afirmou que a presença do autor no texto é uma presença na ausência. Isto quer dizer que ele continua “inexpresso em cada ato de expressão”. Mesmo as auto-referencialidades são exemplo disso. Um dos melhores contos que conheço é Borges y yo, que está no livro El hacedor. Nele, o autor Jorge Luís Borges se mistura ao personagem, o outro Borges, que é, na verdade, a dimensão autoral, num jogo de espelhos. Aí há uma frase lapidar: “Assim minha vida é uma fuga e tudo eu perco e tudo é do esquecimento, ou do outro”. O autor está constantemente em fuga, portanto. Com Júlio Cortázar, autor que leio muito, acontece o mesmo no conto Axolotl. De figura central e indispensável, o autor assume uma condição fantasmática. Dilui-se no texto. Considero estar presente nos meus textos apenas dessa maneira performática.

A escrita é uma vocação ou um ofício?
Você me pergunta se a escrita, isto é, se a aptidão para escrever é resultado de uma dádiva sobrenatural ou de um aprendizado. Não sei bem. Para Maurice Blanchot a idéia da vocação é das mais perversas, pois não está pautada necessariamente sobre as aptidões. É mais uma questão de impostura, uma fantasmagoria. Concordo com ele nesse e em tantos outros pontos. Para ser um escritor, pintor, músico ou artista plástico é preciso se sobrepor às exigências da vocação, transpor os limites de um destino, daquilo que se espera. Também não penso em literatura como ofício, que é o aprendizado da técnica. Ela é indispensável, mas não suficiente. Há algo na literatura que não se encaixa nessas categorias.

Você acha que o dom também pode ser construído? Como?
Nem vocação, nem oficio, nem dom. A literatura é outra coisa. Mas tentemos responder. “Dom” é uma palavra bíblica, própria aos escritos paulinos, nos quais é utilizada para designar a “Graça de Deus”, a gratuidade de um benefício. Algo que Deus dá aos homens sem que eles mereçam. Essa dádiva, esse carisma, deve ser usado para a edificação comum. Na lógica bíblica, o dom não é construído, mas seve para construir. Se for assim, depende-se mais da boa vontade divina que de um esforço. Ora, a noção de literatura para fins edificantes está superada, e não me vejo construindo alguma coisa nesse sentido. Virginia Woolf certa vez escreveu que talvez não estivesse certa dos seus dons. Não creio que o dom possa ser construído na literatura porque simplesmente não creio que ele exista. Pelo menos não estou certo de que o meu algum dia tenha existido.

Em sua opinião, como a leitura pode levar educadores a tomar consciência de seu potencial criativo e transformador?
Paulo Freire nos alertou que a “leitura de mundo” precede a “leitura da palavra”. Ler o mundo é o primeiro passo. Caso queiramos promover alguma mudança, precisamos saber analisar a realidade em que estamos inseridos e, no Brasil, a educação reflete problemas históricos e culturais bastante graves. Um sintoma dessa situação é o pequeno número de leitores entre os educadores. Os que lêem raramente ultrapassam os limites dos programas curriculares. E cobram dos alunos relatórios sobre livros que eles mesmos não leram. Ou, pior ainda, têm como referências culturais livros de auto-ajuda, best-sellers e revistas semanais. É preciso também perverter a leitura conservadora, canônica. É preciso abrir espaço para o novo. Na frança, os problemas no ensino de literatura, como o atraso histórico nos currículos escolares, promoveu reflexões de altíssimo nível. Por conta disso, Tzevetan Todorv e Antoine Compagnon publicaram dois livros importantes, que podem dar ajudar a entender a necessidade de mudança (TODORV, T. A literatura em perigo. Rio de Janeiro: Editora Difel, 2009; COMPAGNON, A. Literatura para quê?. Belo Horizonte: UFMG, 2009). Obviamente, as mudanças necessárias no Brasil são outras e mais árduo o caminho a percorrer.

Quais livros influenciaram na sua formação?
Quando criança lia o que me davam para ler. A Arca de Noé, do Vinícius de Moraes, foi um dos primeiros. Mas lembro de ter lido também alguma coisa do Monteiro Lobato e alguns livros muito ruins, que nos obrigavam a ler na escola. Além disso, tive uma formação religiosa muito forte, que me fez ler a Bíblia desde cedo e, assim, ter contato com textos basilares da cultura ocidental. Com o passar do tempo descobri outras coisas na biblioteca dos meus pais. Antes dos 13 li autores como Santo Agostinho, Machado de Assis, Nietzsche, que quase não entendia, mas que exercia sobre mim uma fascinação que não sentira até então. Passada essa fase de descobertas, entrei de cabeça em Paul Tillich e sua teologia da cultura. Aí se abriu a janela para a literatura que posteriormente me levaria a coisas espetaculares, embora com certo atraso, como Beckett, Dalí, Cortázar, Mallarmé, os irmãos Campos, e tantos outros, inclusive a poesia que se faz atualmente no Brasil, que é da melhor qualidade.

De que forma o seu livro pode ser utilizado na escola?
A princípio, pode ser lido! Fio no Pescoço pode oferecer aos alunos outra experiência estética, diferente daquela que predomina nas escolas. No que diz respeito aos textos, a experimentação da escrita não-linear e a observação de gêneros híbridos ampliam o que se costuma ensinar. Isto quer dizer que os professores têm também a possibilidade de escapar da cartilha rígida e antiquada que está aí. Sem contar que estudar um livro que está fora do cânone, e que provavelmente permanecerá assim, é uma ousadia digna de ser tentada. Já o formato permite perceber o livro como obra de arte, não apenas como objeto de consumo. As capas de papelão pintadas à mão, as páginas costuradas, a conscientização da rede social que participa da obra, da qual o escritor é um co-performer, instigam o desenvolvimento de projetos semelhantes, autônomos, dentro do ambiente escolar.

*Aluna do curso de Letras na Uniderp-Anhanguera, pólo de São Francisco do Sul/SC.


3. O jornal do CCE - Centro de Comunicação e Expressão - da Universidade Federal de Santa Catarina- UFSC , divulga a editora Katarina Kartonera. Acesse a entrevista Jornal CCE - 7ª edição p.7 (http://issuu.com/jornaldocce/docs/jor_7/7?mode=a_p)


2. Katarina Kartonera entrevista Paulo Betti

De 30/ago a 4/set estivemos no Rio de Janeiro para o evento "A arte e as exceções", onde Evandro Rodrigues, editor responsável da Katarina kartonera, entrevistou Paulo Betti

Confira a entrevista na página de vídeos.

Duela a quem duela! Evandro Rodrigues entrevista Paulo Betti (publicado em 03/10 /09 na versão online do Diário Catarinense - Caderno de Cultura, Florianópolis)

http://www.clicrbs.com.br/diariocatarinense/jsp/default2.jsp?uf=2&local=18&source=a2673499.xml&template=3898.dwt&edition=13246&section=1323

e este é o link do próprio artigo, em pdf:

http://www.clicrbs.com.br/pdf/7094191.pdf


1. Portunhol Selvagem Evandro Rodrigues entrevista Douglas Diegues (publicado no Diário Catarinense, Caderno de Cultura, Florianópolis)
http://www.clicrbs.com.br/diariocatarinense/jsp/default2.jsp?uf=2&local=18&source=a2192601.xml&channel=22&tipo=1&section=Geral&template=3898.dwt

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